As maravilhas do Mundo e da Vida descortinam-se através de palavras que se multiplicam à procura de fazer sentido...

terça-feira, 17 de abril de 2007

É tão fácil criticar professores...




Confesso que me assustei quando começaram a falar em avaliações de professores por parte dos pais, a verdade é que, salvo raras excepções, os pais não sabem sequer o que é criticar um professor, pensam que é dizer se ele é simpático ou bonito; mas o pior é que mesmo a minoria de pais que realmente tem capacidade para criticar devidamente os professores não vão às aulas, logo o que vão eles criticar? Assim sendo não são os pais que criticam... são os alunos que chegam a casa e fazem os seus juízos sobre os professores aos pais, juízos estes que têm como principais premissas coisas tão importantes como se o professor sorriu ou não para ele naquele dia, se leccionou matéria que o aluno gosta, se prestou mais atenção ao colega que o aluno tanto detesta, enfim, este tipo de coisas. É refrescante saber que serão esses juízos tão bem fundamentados que vão decidir o futuro dos professores.


Este post tem como "musa inspiradora" algo que me aconteceu ontem. Estava eu a dar a minha aula descansado quando no intervalo olho para o telemóvel e vejo uma chamada do coordenador de curso. Telefono e qual é a minha surpresa quando o teor da conversa é uma carta dos pais de um formando a criticarem o meu trabalho, diziam que eu deixava os alunos chegar tarde e não marcava falta, diziam que não preparava as minhas aulas e que não controlava a turma. Evidentemente as críticas são do formando, parece até que os pais nem queriam enviar a carta. Para aumentar a palhaçada a carta foi enviada directamente ao director do Centro de Formação e nem sequer estava assinada, não falaram comigo, não falaram com os coordenadores, foram directamente ao "patrão". Claro que o remetente da carta não imagina que isto pode fazer com que o formador não tenha mais nenhum curso ou até que seja afastado dos cursos que tem.


Continuando, aqui estou eu perante uma carta a dizer mal do meu trabalho, algo que evidentemente vai ser arquivado para mais tarde ser visto. Eu sou a favor de criticarem o nosso trabalho, acho que faz com que reflictamos sobre as nossas práticas, mas isto já se parece mais com calúnia! Quanto às acusações, confesso que a primeira tem fundamento, não marco falta pois os pais é que sofrem com isto, as aulas são pagas à hora e os pais não recebem o dinheiro porque os alunos chegaram mais tarde, mas realmente quem sou eu para mudar mudar as regras? Ninguém, reconheço. Agora vem a acusação que me deixou perplexo; a de que não preparo aulas! Aí é que está o perigo de serem alunos a julgar professores. Eu lecciono inglês, a minha metodologia de ensino passa não só, mas também por dar músicas para traduzirem, fazer karaokes, fazer jogos, esse tipo de coisas que qualquer pessoa ligada ao ensino do inglês sabe serem minas de ouro para o ensino da língua. Evidentemente que para o aluno isto parece-lhe um modo de não me chatear muito, dou umas músicas, uns jogos só para os manter entretidos; mal ele sabe que são exactamente estas coisas que dão mais trabalho a planificar! Um aluno habituado ao ensino tradicional, com pais habituados ao ensino tradicional, chega a casa e diz que o professor em vez de passar horas a ensinar gramática e a fazer exercícios põe os alunos a cantar e a fazer jogos, claro que pensam logo que o professor não prepara aulas! Uma acusação gravíssima que tem como base a simples...ignorância! E finalmente a crítica do mau comportamento dos alunos... claro que à primeira vista ao ver alunos a gritar e a bater palmas na sala de aula pensa-se logo que são mal comportados, bom comportamento para as pessoas é estarem calados a aula inteira. Isso passa de pais para alunos; então mais uma vez o aluno chega a casa e diz que na aula os alunos gritam e saltam e batem palmas, os pais pensam logo que é a balbúrdia total. Nunca lhes ocorre que quando se fazem jogos que envolvem competição é impossível os alunos não gritarem os nomes uns dos outros e ficarem excitados, nunca lhes ocorre que quando se faz um karaoke os alunos gritam, riem-se, batem palmas e criticam os outros enquanto cantam, enfim, nunca lhes ocorre que isso não é mau comportamento, é o comportamento normal nessas situações!


Assim se destroem bons professores e boas práticas e se perpetuam aquelas aulas do método tradicional que deixam todos contentes menos os alunos!


Por isso nos perguntamos enquanto estudamos para ser professores porque razão no "campo" se esquecem todas as coisas que se aprendem durante o curso... é a sobrevivência! Neste mundo dos professores, sobrevivem os mais fracos. Eis a razão pela qual o ensino está como está, foram precisos dois anos a leccionar para o perceber. Pode ser que daqui a uns anos esteja eu a levar alunos às lágrimas com horas de aulas "seca" em que se decora tudo, aí vou reler isto e vou-me lembrar: "Como era inocente no início de carreira, quando ainda acreditava que podia ser eu a fazer a diferença!"

4 comentários:

Leoa disse...

Não desistas de "fazer a diferença". Não te esqueças das circustâncias em que das aulas e dos teus "alvos"!No dia em que fores colocado numa escola para alunos que o que pretendem é aprender não deixes de pôr em prática o teu método, que é o melhor, simplesmente foi mas interpretado, seja pela razão que for!!Força :)

maisuma disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Não desanimes a vida é assim mesmo e quem faz a diferença muitas vezes e mal interpretado mas acaba por ser reconhecido força muita força

1entre1000's disse...

enfim...