As maravilhas do Mundo e da Vida descortinam-se através de palavras que se multiplicam à procura de fazer sentido...

domingo, 25 de março de 2007

Bestseller...



Estou a preparar um bestseller para sair daqui a uns anos, quando eu tiver coragem de acabar o livro. Já perdi a conta às vezes que comecei a escrever, parei, recomecei a escrever... mas enquanto ele não sai e me faz uma pessoa rica fica aqui um bocadinho do primeiro capítulo (vou no 15º) :

Capítulo 1

Acordei, pela janela ouvia o mundo a chamar por mim, numa voz pesada e amarga que me tirava a coragem de sair da cama. Mas, sem outra opção, lá me levantei.

Abri uma sempre fechada janela na esperança de que pelo menos o tempo contrastasse com o meu estado de espírito, mais um engano para o mar de mentiras que invento para sobreviver a mim próprio. Não se via o sol, o nevoeiro denso tentava esconder um mundo que lentamente me consumia até me fazer sair de mim; de vez em quando ouvia-se um pássaro que ainda resistia à melancolia do mundo, a tentar alegrar essa monotonia que nos abrange com o seu canto encantado. Sorria, não encantado pela beleza desse canto que quebrava o meu melhor amigo: o silêncio; mas pela inocência que um dia com crueldade o mundo lhe iria tirar.

No meio de um mar de pensamentos dos quais não me conseguia desligar, tomei o peso do mundo nos meus ombros e lá continuei o meu caminho.

Abri a porta do quarto, não se via ninguém. Talvez deva tentar fazer como eles; acordar cedo e fugir de casa na esperança de que os problemas fiquem por cá. Enfiar-me num café, rodeado de pessoas que não conheço e atormentado por outras que conheço, na triste esperança de que palavras fúteis que saem das suas bocas façam desaparecer esse zumbido amargo que persegue os meus ouvidos. Mas não! Prefiro sofrer na realidade (se é que ela existe) do que me esconder no meu imaginário. Isto é o que penso, pois basta distrair-me dois segundos que procuro um sítio completamente diferente, com pessoas completamente diferentes, com tudo completamente diferente!

Dirijo-me à cozinha, procuro algo que comer. A comida é das poucas coisas que me alivia. Sinto um enorme prazer nessa coisa tão banal e ao mesmo tempo indispensável (quase como tudo no mundo) que é comer!

Olho o relógio, vejo nele o tempo, vejo nele o nada. Por vezes fico pasmado como a nossa vida pode reduzir-se a uma “maquineta” que usamos no pulso! Penso como é que vou ocupar esse espaço que os ponteiros determinam, não encontro nada que fazer e limito-me a pensar, pensar... em tudo e em nada mas sempre a pensar. Está decidido, vou deixar de andar com relógio no pulso! Afinal quem manda... eu ou o relógio?

Vou à casa de banho para me preparar. Passo eu horas fúteis em frente ao espelho a tentar parecer o melhor possível para o mundo! Chega a ser sufocante esta necessidade de aparentar beleza... se calhar o que pretendo não é ficar mais bonito, talvez seja tornar-me outro, diferente, maior, com respostas...

Já perdido nos meus pensamentos, dirijo-me à porta que me traz mundo e atrevo-me a desvendar os segredos que se escondem por trás dela.

Caminho pelo passeio, atrás de mim caminha uma multidão de emoções, ideias, previsões, desilusões... enfim, a vida! Vou-me cruzando com pessoas, vejo nas suas faces inquietações, problemas, desejos e frustrações por não os atingir, vejo nelas o que provavelmente elas vêm em mim. Por vezes, muito raramente, vejo pessoas felizes andando despreocupadas que quase fazem desaparecer este olhar pessimista que sinto agora vir do mundo, apetece-me beijá-las e perguntar qual o seu segredo.

A minha vida é assim, uns momentos acontece algo que me moraliza e o mundo parece maravilhoso mas outros, mais frequentemente, o mundo apresenta-se como um inferno que eu próprio construo. Sim, não é o mundo que é mau! Sou eu que na minha intelectualização estúpida resolvo complicar tudo! Às vezes fico estupefacto com o que faço a mim próprio... está tudo bem, então eu começo a imaginar situações em que tudo corre mal, vivo-as, choro-as, reinvento-as e depois na realidade (mais uma vez, se tal coisa existir) acabo por agir como se isso tivesse mesmo acontecido! As mulheres fazem tempestades em copos de água... eu nem preciso do copo de água, sou uma versão melhorada e avançada dessa coisa irritante que é ser... estúpido!

Nada como acabar na parte em que me chamo "estúpido"! Sei que vai ser essa a última coisa que vai ficar na vossa cabeça mas tenho pena de vocês e vou acabar por aqui a amostra do meu futuro romance.

Espero que deixem os vossos comentários, só preciso que me digam se adormeceram antes de chegar ao fim ou se aguentaram tudo... é que se nem metade do primeiro capítulo aguentam quanto mais o livro inteiro...
Coragem!

Um pedaço do passado para adoçar o futuro



Estava eu a ler os meus poemas de infância e encontrei este... numa altura em que cada vez se acredita menos no sonho, em que nos movemos mecanicamente e não abraçamos cada momento como uma conquista dum pedacinho de magia, achei que podia dar alento com a inocência de palavras tão sentidas na altura e que, confesso, ainda têm a sua voz dentro de mim. Serei eternamente sonhador, eternamente um deambulador entre o real e o imaginário e eternamente feliz..por isso! Aqui vai:

O Sonho

Mero querer ou imaginar,

Desejo ou pensamento escondido;

O ódio, a loucura, o amar

Que está dentro de nós perdido;


O despercebido passar do vento

Quando abrigado dele estamos

Mas que se torna forte e violento

Quando desprotegidos o enfrentamos...



A chama de um desejo aceso

Que transforma a noite em loucura;

A jaula que me deixa preso

Ao insistir dessa voz que murmura...


Talvez seja um mundo intermédio

Que nos confunde e nos faz perder,

Compreendê-lo é o remédio

Para a luta intensa por nos perceber;


Seja ele imaginação ou real,

Desprezar submerso ou intenso desejar,

Pureza ou pensamento imoral

É alimento, é luz... é sonhar!



Sintam o sabor de cada palavra e nunca, NUNCA MESMO deixem de sonhar!
Um abraço do Olimpo...